Baila comigo
Dançar é bem parecido com o ato de amar. Precisa de parceiros que, até certo ponto, devem conhecer as regras básicas do estilo musical em questão. E quando a dança vira uma paixão? Aquela que cresce a cada giro, a cada passo novo.
Letícia Lodi sabe muito bem o que é isso, afinal a magia da dança faz parte de sua vida desde sempre. Aqui ela conta tudo a respeito. Acompanhe.
Conta pra gente como começou essa paixão pela dança.
A paixão pela dança começou ainda cedo, por volta dos 4 anos. Na escola que fiz pré-primário existia uma turma de baby class e eu não via a hora de começar a praticar. Eis que o "destino" me aprontou uma peça: as professoras exigiam uma avaliação médica, com um ortopedista, para as alunas fazerem parte do grupo e eu fui reprovada. Tinha, quer dizer, tenho um encurtamento nos dois calcanhos (naquela época, eram os calcanhar de aquiles), o que me fazia andar na ponta dos pés. Fiz alguns anos de fisioterapia, mas a dança sempre ficou na minha memória. Assistia os espetáculos das minhas colegas e da minha irmã, morria de inveja de vê-la no palco (ela ganhava fantasias lindas da minha mãe para a apresentação), chegava a chorar ao ver bailarinas, tamanha a frutração. Pratiquei vários esportes: natação, atletismo, basquete, futebol e finalmente a academia (aquele momento fatídico, que toda mulher pensa que não tem outra opção na vida...). Um dia, cerca de 2 anos atrás, procurei no google por aulas de ballet, depois de ter visto uma reportagem de revista sobre aulas de ballet para adulto. Uma esperancinha nasceu e eu encontrei uma escola bem perto do meu trabalho. Era uma escola um pouco cara, mas valia o preço do sonho de me ver como bailarina. Fiz pouco mais de 3 meses de aula nesta escola e não me adaptei. As alunas eram ex-bailarinas, todas em nível intermediário ou avançado, enquanto eu não sabia nem as posições dos pés. Me sentia incapaz o tempo todo. Pensei um pouco e vi que aquilo não era adequado para mim. Nada que faça você se sentir incapaz ou inadequada deve servir para você. Resolvi procurar por outra escola e conversando com uma amiga, cheguei a minha atual escola (que estou a pouco mais de um ano). Muitos me falavam que a minha inadequação era resultado da rigidez do ballet ou dos métodos, mas na verdade, como adulta, vejo que não podemos aceitar "métodos arcáicos e rígidos" só porque falam que é assim. Hoje, me sinto bailarina, de corpo e alma, é parte do meu dia a dia e do que sou.
Por que o ballet?
Faço ballet clássico, nunca experimentei outras modalidades (moderno, contemporâneo ou até mesmo jazz). Desde que entrei, me apaixonei por tudo aquilo: a rigidez, a postura, os movimentos leves, porém fortes, a feminilidade, a delicadeza, as fantasias, o tule e o cor de rosa (achava que iria fazer aulas toda de preto, que rosa é cor de criança, quando vi, estava totalmente vestida de rosa! Morri de vergonha, mas amei!). Ele trouxe um lado delicado que eu nem me lembrava que tinha, me deixou em contato com feminilidade também, sem culpas ou preconceitos. Depois vieram as referências, as pesquisas e vi que nem só de princesas e fadas o ballet é feito, tem muita fantasia, mas também tem muito drama, começa a aflorar um lado teatral e artístico, que é fantástico. Do ponto de vista físico, o ballet é diferente de todos os outros exercícios que já fiz. Exige uma força e um preparo físico diferente. Não vou dizer melhor ou pior, como muitos defensores. Não é como uma corrida, mas você precisa ter fôlego para saltar, não é como musculação, mas você precisa ter muita força para fazer os balances (posições estáticas). Já pela ótima emocional, é fantástico para liberar a criatividade, a ansiedade e a timidez, afinal de contas, você pode ser o personagem que você quiser.
Como você consegue conciliar a vida profissional com o ballet?
Realmente é complicado a conciliar isso. Os cursos para adultos normalmente não exigem aulas diárias, se enquadram melhor a duras rotinas de trabalho. A evolução é mais lenta, mas você sempre se dedica o quanto pode. Da minha parte, faço 3 x por semana, que era o volume de treino semanal que tinha na academia. Se pudesse, faria mais dias, mas nem o trabalho, nem as atividades domésticas permitem (rss). Mas já acho fantástico conseguir dedicar um pouco do meu tempo a algo que gosto tanto, as pessoas deveriam se dar esta oportunidade, não no ballet, mas em qualquer atividade física: uma caminhada com alguma colega (faz bem para o corpo, para a cabeça e para a fofoca), um pouco de alongamento na sala de casa, andar de bicicleta no parque com os filhos e outras tantas coisas boas.
E as apresentações?
Este é um capítulo à parte. É um momento único. Para o bailarino e para o ator, passamos tanto tempo fazendo exercícios para um único objetivo: se apresentar. No caso de bailarinas iniciantes, intermediárias até, acho que é o momento que você percebe a sua evolução. Passei por uma única apresentação, no final do ano passado. E posso dizer, que me senti coroada pelo esforço de um ano e pouco de ballet. Vemos falhas, defeitos, mas acima de tudo, superamos o medo de subir no palco e apresentar aos nossos amigos e familiares o nosso esforço. Dá para ver no rosto de cada pai, namorado, filho, o orgulho de ter visto uma pessoa tão querida no palco e isso é gratificante. Ali ninguém almeja ser profissional, dançar em grandes companhias, ser professora no futuro, apenas deseja se sentir bem, feliz consigo mesma e realizada no seu aprendizado. É isso que faz da apresentação um momento de confraternização tão gostoso e feliz.
Os treinos preliminares são duros, exige esforço, muitas vezes chega a dor (algumas colegas se machucam por excessos, até mesmo por pequenos erros), mas tudo isso é recompensado no dia final.
Relate um dos melhores momentos vividos com a dança
Eu diria que tive 3 grandes momentos felizes no ballet: o primeiro dia, quando calçei as sapatilhas e vi que era uma das coisas mais felizes da minha vida; o dia da apresentação, que apesar do nervosismo e da superação, vale a pena e faz toda a diferença na vida (diria uma amiga minha, também bailarina: "as pessoas têm que fazer 4 coisas antes de morrer: plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho e subir ao palco"); a minha primeira aula de pontas, que apesar de difícil, dolorosa e até mesmo boba, tem um signficado além de qualquer explicação para quem faz ballet, é o momento da "maioridade" no ballet.
Lelê é a dona do
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