UMA SEGUNDA CHANCE
Num mundo perfeito, homens e mulheres se casariam e viveriam felizes para sempre. Porém vivemos num mundo que está longe da perfeição. Muitos casamentos simplesmente não duram por uma infinidade de motivos e acabam em divórcio. Ambos, em sua maioria, saem desse relacionamento machucados e decididos a não se relacionar novamente. Sheila Rufato pensou diferente, não generalizou o fracasso de seu primeiro relacionamento, foi à luta, encontrou o amor da sua vida e construiu uma família feliz. Aqui ela nos conta de onde veio tanta determinação.
Sheila e sua linda família: o marido Carlinhos e as crianças Raphaela e Gabriel
*Conta pra gente como foi seu primeiro casamento?
Quando conheci o meu ex-marido, acreditei que tinha encontrado o meu príncipe encantado, era exatamente como eu tinha sonhado, o estereótipo que eu julgava perfeito pra mim. Nos conhecemos num chat e poucos dias depois pessoalmente, terminei um namoro de 1 ano e meio pra ficar com ele, achando que tinha encontrado a felicidade. Nos casamos um ano e três meses depois do começo do namoro, cedo confesso, mas era o que queríamos, pra mim foi uma chance de viver a vida longe dos olhos atentos dos meus pais, de viver aquele amor que parecia eterno. O casamento foi lindo, o vestido era o dos meus sonhos, a cerimônia foi breve, a festa divertidíssima. Adorei o fato das “tias” ficarem procurando uma possível barriga na minha cintura de boneca! Afinal, quem hoje em dia se casa aos 17 anos por amor? Eu casei.
*Como se sentiu quando percebeu que tudo havia terminado? Quais decisões tomou?
Eu não senti que as coisas tinham terminado, sabe quando a gente se acostuma com a vida que leva? Pois é, nos acostumamos a companhia um do outro, tínhamos nossa vida apartada e não mais fazíamos as coisas cotidianas juntos, tinha dia que mal nos víamos por causa do trabalho, sofri um aborto, isso também nos abalou muito. Ele achou que devíamos ter um casamento mais “moderno”. No medo de fracassar e dar razão à todos que diziam que não ia durar, concordei com esta falsa liberdade que teríamos, não sabia, mas naquele dia, assinei o meu divórcio.
*Nessa fase, você contou com qual ajuda?
Não tive ajuda de ninguém, nunca contei à ninguém sobre nada disso, eu não queria que as pessoas pensassem que eu não estava feliz, que a minha decisão tinha sido errada e que meu sonho estava acabado. Decidi por conta buscar novos caminhos, minha independência, ganhava razoavelmente bem, tinha um carro no meu nome e decidi então tirar a carteira de motorista, desta forma eu achava que precisaria ainda menos dele pra poder fazer coisas simples, como ir ao mercado, shopping ou mesmo visitar minha mãe.
*E como conheceu o seu marido atual?
No Réveillon de 2002/2003, tivemos (eu e o ex) uma discussão, exatamente sobre eu dirigir, e foi aí que decidi entrar numa autoescola, me matriculei dia 06 de Janeiro de 2003, comecei as aulas teóricas em 08 de Janeiro. Cheguei cedo, empolgada, sentei na última fileira, olhei pro lado e vi um cara normal, mais velho, com uma roupa despojada, um jeans surrado, ele entrou mancando na sala, nossos olhares se cruzaram e fomos nos acompanhando até ele ficar de frente pra mim, ficamos sem jeito, mas nos olhávamos durante toda a aula. No terceiro dia de curso, estávamos conversando entre alunos e ele chegou, não me lembro o porquê, mas ele disse que havia falado de mim pra recepcionista do local, e eu perguntei o que havia falado, ele me disse: “Eu disse à ela que havia uma mulher linda na sala de aula” e a recepcionista cogitou: “Carlos, já pensou em passar uma noite com esta mulher?” E ele devolveu: “Ela não é mulher pra uma noite, ela é mulher pra vida inteira”. E ele foi contando isso com a maior naturalidade, na frente de todo mundo pra quem quisesse ouvir, eu fiquei morrendo de vergonha, nunca tinha ouvido nada tão lindo, sem jeito, dei um beijo no rosto dele e agradeci. Fui pra casa pensando nele, naquele homem que não era loiro (na época era o meu fraco), não era muito preocupado com as roupas, tinha até um semblante sofrido, mas era lindo, tinha uma beleza que me atraía. Sonhei com ele, pensei nele o dia todo no trabalho. Três dias depois acabou o curso, hora de nos despedirmos. Foi difícil, achei que não fosse mais vê-lo, apesar de morarmos no mesmo bairro.
*Quando descobriu seus sentimentos por ele?
Recebi um telefonema no trabalho, que eu havia passado no exame escrito e já poderia marcar as aulas, eu reconheci a voz dele, avisei que iria no final do dia marcar as aulas. Qual a minha surpresa quando cheguei e ele estava lá (pois a Autoescola era de um amigo dele que o chamou pra dar umas aulas enquanto não contratava outro instrutor)? Marquei minhas aulas, nelas, chorei, desabafei e contei todas as minhas mágoas, ele no começo, me incentivou a ter uma conversa franca com o meu então marido, eu o fiz, mas as coisas já tinham acabado. Contei a ele que não tinha mais jeito, ele então decidiu me contar os sentimentos dele e aconteceu naturalmente, saímos um dia com um pessoal do Curso, fomos numa pizzaria e nada aconteceu, na volta, estávamos conversando e ele disse que tinha muita vontade de me beijar, e eu perguntei por que ele nunca tinha me beijado e ele respondeu: “Eu estou te respeitando”. Sabe qual foi a minha resposta? “Talvez eu não tenha pedido pra ser respeitada!” Nos beijamos. Ali eu já o amava, ele soube antes de mim. A partir daquele momento, resolvemos ficar juntos, me separei, foi difícil, enfrentei a minha família, fiquei sem contato eles por dois meses, perdi o estágio, tranquei a faculdade, larguei um marido de 22 anos pra ficar com um homem de 35, que não tinha nada, casa, carro, salário bom, nada disso, era um cara simples, mas que fazia eu me sentir mais mulher segurando a minha mão e andando pela rua, do que o ex, nos momentos mais íntimos que tivemos. Não consigo responder quando decidimos nos casar, tem que ser na próxima pergunta! (risos)
*E os frutos desse amor?
Num feriado de Páscoa, estávamos juntos, vendo TV, as coisas começaram a esquentar quando eu interrompi e disse à ele que não era um dia propício, estava fértil e não estava tomando medicação, sem proteção ao alcance das mãos, ali, cinco minutos antes, decidimos correr o risco, e naquele dia 18 de abril, 2 anos depois de eu perder um bebê no mesmo dia, o Gabriel foi concebido, com muito amor e carinho (e planejado sim, com cinco minutos de antecedência!!!). O Gabriel nos uniu, pois com tantas coisas indo contra nós, sem ver minha família, desempregada, sem estudar, vivendo na casa do Carlinhos, com a família dele, sob o olhar hostil e as palavras duras da mãe dele, eu chorava, chorava muito, mas vencemos os obstáculos, fomos morar com aminha avó, o Gabriel nasceu, trouxe vida pra nós, toda a magia, todo o sentimento de plenitude. E assim, no dia 26 de Dezembro de 2003, viramos uma família. (Fez as contas?). A Raphaela veio num momento delicado, eu que queria muito ser mãe já estava realizada com o Gabriel, mas sempre sonhei em ter uma menina, queria esperar o final da faculdade, mas no último ano....ela veio, cheia de graça e ternura, novamente o desemprego assolou nosso casamento, mas o Carlinhos é daqueles pais de família que saem e não voltam sem ter o básico pros seus, quantas vezes o vi sair às 06h30 e voltar às 23h30, dando aula direto pra garantir que tudo corresse bem e eu pudesse ficar o tempo mínimo em casa com nossos filhos. Ele ainda faz este horário às vezes. Foi difícil, mas superamos muitos obstáculos com amor, carinho, cumplicidade e lealdade. O Gabriel hoje é o sol da nossa vida, nos irradia com sua inteligência, sua perspicácia, seu sorriso safado e seu jeito carinhoso, só de lembrar do meu alemãozinho, meus olhos enchem d’água. A Raphaela é a lua lá de casa, calma, tranquila, nos transmite paz, seu jeitinho doce, meigo, aquele sorriso angelical, a menina dos olhos do papai. (Pronto, chorei!).Eles são a continuação do nosso amor, a perpetuação de um sentimento lindo que através dos filhos e netos que terão, será eterno. Costumamos dizer que filho não segura casamento, mas se feito com amor é uma aliança eterna entre o casal.Não nos amamos porque tivemos nossos filhos, tivemos nossos filhos, porque nos amamos (muito).
*Quais são os planos para o futuro?
Agora é focar na casa própria, saldar as dívidas que o primeiro casamento me deixou e ainda não consegui acertar. Após isso, fazermos uma cerimônia espírita para consagrarmos a nossa união diante de Deus e dos que nos querem bem, somos casados legalmente, mas sentimos falta de ter este momento, o bom é que vamos esperar a Raphaela crescer pra levar o pai até o altar, acho que vai ser bem legal, nossos filhos, nossas reais alianças vão participar do nosso casamento, da benção sobre nosso amor. A única coisa que posso adiantar é que no convite, não terá o nome dos nossos pais convidando para o nosso casamento, serão nossos filhos, convidando para o casamento dos pais, original não é?
*Pra você casamento é...
Pra mim é o cotidiano, é saber que não estou sozinha, que tenho alguém pra cuidar de mim e que eu posso cuidar também. É olhar todos os dias pra mesma pessoa e ter a certeza que fez a escolha certa. Se apaixonar é fácil, mas se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa exige dedicação, conivência, compreensão, aceitação e doação. Eu ainda olho pro Carlinhos às vezes e penso que não mereço, que sou chata demais pra ele, mas já que Deus assim quis, me esforço todos os dias pra continuar merecendo a família linda que construímos e este amor que ainda me faz chorar quando falo, ainda me faz sentir frio na barriga quando ele está chegando, que faz o meu coração ficar apertado até ver que ele chegou em casa bem, que me faz estender o braço à noite e sentir que do meu lado, dorme, todos os dias, o homem da minha vida. Eu me casaria milhões de vezes novamente, desde que fosse todas com o Carlinhos, meu instrutor, meu amigo, meu namorado, meu marido, meu companheiro, meu amante e meu cúmplice. Eu o amo de uma maneira imensurável, ele é definitivamente o grande amor “das minhas vidas”.
Sheila é uma Mulher de Fases e nos mostra cada uma delas em seu blog. Quer conhecer? Corre lá.